15 de março de 2011

Interfectores Regia: Charles Manson


Charles Milles Manson (Cincinnati, 12 de novembro de 1934) é conhecido como o fundador, mentor intelectual e líder de um grupo que cometeu vários assassinatos, entre eles o da atriz Sharon Tate, esposa do diretor de cinema Roman Polanski.
Filho de uma prostituta, ainda criança Manson passou a frequentar reformatórios juvenis pelos quatro cantos dos Estados Unidos. Em 1967, Manson saiu da prisão aos 33 anos de idade, tendo permanecido preso desde os 9 anos de idade. Em 1968, ele formou uma comunidade alternativa em Spahn Ranch, perto de Los Angeles. Manson tinha idéias grandiosas e um grupo de amigos e admiradores, conhecidos como Família Manson. Esses eram jovens, homens e mulheres de famílias ricas, que não tinham bom relacionamento com seus familiares e que por isso passaram a morar nas ruas da Califórnia. Alguns dos admiradores de Manson o consideravam uma reencarnação de Jesus Cristo - uma analogia a ele abrir a vida dos jovens para "novos horizontes". O próprio Manson, porém, sempre negou tal comparação.
Em 9 de agosto de 1969, um pequeno grupo de conhecidos de Charles Manson invadiu uma casa alugada por Roman Polanski em Cielo Drive, 10050, Bel Air, assassinando sua esposa Sharon Tate — que estava grávida — e mais quatro amigos do casal. Segundo a polícia de Los Angeles, na cena do crime grandes quantidades de drogas haviam sido encontradas. As vítimas foram baleadas, esfaqueadas e espancadas até a morte, e o sangue delas foi usado para escrever mensagens nas paredes. Em uma delas foi escrito Pigs ("porcos", em inglês). Na noite seguinte, o mesmo grupo invadiu a casa de Rosemary e Leno LaBianca, matando o casal. As mensagens escritas na parede da casa com o sangue das vítimas foram "Helter Skelter", "Death to pigs" e "Rise". Os assassinatos de Sharon Tate, seus amigos e do casal LaBianca por membros da "Família Manson" ficaram conhecidos como Caso Tate-LaBianca.
Segundo o promotor do caso, Vincent Bugliosi, os assassinatos teriam sido planejados por Charles Manson, apesar de ele não estar presente em nenhum dos dois casos. Bugliosi elaborou uma teoria chamada "Helter Skelter", onde o objetivo dos assassinatos seria começar uma guerra que, segundo ele, seria a maior já travada na Terra, denominada de "Helter Skelter". O nome corresponde ao título de uma música dos Beatles onde, segundo o promotor, havia uma enorme quantidade de mensagens subliminares que influenciaram as ideias de Manson. Seria uma guerra entre negros e brancos, em que os brancos seriam exterminados pelos negros. Nessa teoria, o assassinato dos famosos de Hollywood levariam a uma breve acusação de algum negro, fazendo com que os confrontos explodissem logo. Bugliosi afirmou que durante essa guerra, como Manson e sua "Família" eram todos brancos, planejavam esconder-se em um poço, supostamente denominado por Manson como "poço sem fundo", em algum lugar no deserto californiano, assim que a suposta guerra começasse. Após os conflitos, Manson e sua "Família" voltariam do deserto.
Linda Kasabian, uma das integrantes da comunidade e testemunha ocular de todos os assassinatos, duas semanas depois dos crimes resolveu fugir e denunciar Manson e os outros integrantes à polícia. Ela decidiu depor contra Manson em seu julgamento em troca de imunidade oferecida pelo promotor, Vincent Bugliosi. Ela disse não concordar com os assassinatos, apesar de ter presenciado todos nas duas noites em que os crimes foram cometidos. Após semanas de conversas a portas fechadas, em um acordo com o governo da Califórnia, Kasabian recebeu imunidade no caso, um novo nome para ela e sua filha, e uma pensão do governo por tempo indeterminado. Após a condenação de Charles Manson, Kasabian desapareceu. Ela resurgiu anos depois, em meados de 1970, presa por tráfico de drogas.
Charles Manson, então com 37 anos, foi acusado de seis assassinatos e levado à Justiça, juntamente com 'Tex' Watson, Susan Atkins, Patricia Krenwinkel e Leslie Van Houten, de 19 anos . Manson alegou não ter participação em nenhum deles. Ele conseguiu provar isso, mas Bugliosi convenceu o juri popular que Manson poderia ter influenciado os jovens a matar. Após o julgaento, Manson declarou o seu ódio profundo pela Humanidade, chamando os membros de sua "Família" de rejeitados pela sociedade. A promotoria se referiu a ele como "o homem mais malígno e satânico que já caminhou na face da Terra", e o quinteto foi sentenciado à morte em 1971. Mas, com a mudança nas leis penais do estado em 1972, a pena deles foi alterada para prisão perpétua. Vale lembrar que Charles Manson, em suas entrevistas ainda no corredor da morte, costumava deixar claro que sabia que não iria ser executado. Segundo ele, a sua inocência seria o suficiente para escapar da execução.
Desde a década de 1980, Manson e alguns de seus companheiros, alguns ainda da época dos assassinatos Tate-LaBianca, mas que não tiveram envolvimento com os crimes, têm trabalhado em um projeto conjunto conhecido internacionalmente como ATWA (do acrônimo em inglês Air, Trees, Water, Animals), uma referência ao Ar, às Árvores, à Água e aos Animais, o sistema de suporte de vida do planeta Terra. Manson, de dentro da Corcoran State Prison, na Califórnia, dirige pessoalmente o movimento. Em abril de 2009, em um processo de internacionalização do projeto, surgiu na Internet o website ATWA Brasil, introduzindo a filosofia de ATWA em língua portuguesa e abrindo um canal de comunicação do Brasil com Charles Manson. A ATWA Brasil está em contato com Manson diariamente, e tem postado cartas, vídeos e gravações de ligações telefônicas recentes em que Charles Manson discute a questão de ATWA focando no Brasil. O movimento também convida brasileiros a integrarem "a batalha pela restauração da ordem natural".
Manson tem direito de, a cada cinco anos, ser ouvido quanto à possibilidade de liberdade condicional. Manson nem sempre comparece às audiências, e quando é presente, costuma ofender os oficiais da audiência e fazer piadas sobre a formalidade do processo. Ele permanece encarcerado na Corcoran State Prison, Califórnia, em unidade especial de isolamento da penitenciária, onde também se encontra cumprindo prisão perpétua o assassino do senador Robert Kennedy, Sirhan Sirhan. Sua última tentativa em audiência, negada novamente, foi em 2007. A próxima, será em 2012. Éh 2012 tá prometendo! Veni nobis Satan.

14 de março de 2011

Libros Inferos: Abracadabra


É uma palavra mágica de origem descpnhecida. Supõe-se que protege as pessoas do mal,das doenças e da morte. Quintus Serenus Sammonicus, que acompanhou o imperador Severus para a Grã-Bretanha no ano de 208, mencionou num poema como uma cura contra a febre terçã. Elifas Levi discorreu no "triângulo mágico" a duração e a conexão com outros conceitos ocultos, incluindo o simbolismo do taro. Para melhor resultado a palavra deve ser escrita na forma de um triângulo (ver imagem acima) e colocada em volta do pescoço.
A palavra é supostamente a corruptela do termo sagrado Gnóstico "Abraxas", a fómula mágica mencionada em "Hurt me not" (Não me fira).

11 de março de 2011

Principes Inferni: Lilith


Lilith é referida na Cabala como a primeira mulher do bíblico Adão, sendo que em uma passagem (Patai81:455f) ela é acusada de ser a serpente que levou Eva a comer o fruto proibido.
A palavra ocorre uma única vez, em Isaías 34:14: E as feras do deserto se encontrarão com hienas; e o sátiro clamará ao seu companheiro; e Lilite pousará ali, e achará lugar de repouso para si.
Obs: Nas traduções recentes da Bíblia a palavra Lilite é substituída por demônio ou bruxa do deserto. Fantasma, na Revista e Atualizada.
Judit Blair (2009) demonstra que todos as oito criaturas, que são mencionadas, são animais naturais.
No folclore popular hebreu medieval, ela é tida como a primeira esposa de Adão, que o abandonou, partindo do Jardim do Éden por causa de uma disputa sobre igualdade dos sexos, chegando depois a ser descrita como um demônio.
De acordo com certas interpretações da criação humana em Gênesis, no Antigo Testamento, reconhecendo que havia sido criada por Deus com a mesma matéria prima, Lilith rebelou-se, recusando-se a ficar sempre em baixo durante as suas relações sexuais. Na modernidade, isso levou a popularização da noção de que Lilith foi a primeira mulher a rebelar-se contra o sistema patriarcal.
Assim dizia Lilith: ‘‘Por que devo deitar-me embaixo de ti? Por que devo abrir-me sob teu corpo? Por que ser dominada por ti? Contudo, eu também fui feita de pó e por isso sou tua igual.Quando reclamou de sua condição a Deus, ele retrucou que essa era a ordem natural, o domínio do homem sobre a mulher, dessa forma abandonou o Éden.
Três anjos foram enviados em seu encalço, porém ela se recusou a voltar. Juntou-se aos anjos caídos onde se casou com Samael que tentou Eva ao passo que Lilith Tentou a Adão os fazendo cometer adultério. Desde então o homem foi expulso do paraíso e Lilith tentaria destruir a humanidade, filhos do adultério de Adão com Eva, pois mesmo abandonando seu marido ela não aceitava sua segunda mulher. Ela então perseguiria os homens, principalmente os adúlteros, crianças e recém casados para se vingar.
Após os hebreus terem deixado a Babilônia Lilith perdeu aos poucos sua representatividade e foi eliminada do velho testamento. Eva é criada no sexto dia, e depois da solidão de Adão ela é criada novamente, sendo a primeira criação referente na verdade a Lilith no Gênesis.
No período medieval ela era ainda muito citada entre as superstições de camponeses, como deixar um amuleto com o nome dos 3 anjos que a perseguiram para fora do Éden, Sanvi, Sansavi e Samangelaf para que ela não o matasse, assim como acordar o marido que sorrisse durante o sono, pois ele estaria sendo seduzido por Lilith.
A imagem de Lilith, sob o nome Lilitu, apareceu primeiramente representando uma categoria de demônios ou espíritos de ventos e tormentas na Suméria por volta de 3000 A.C. Muitos estudiosos atribuem a origem do nome fonético Lilith por volta de 700 A.C.
Ela é também associada a um demônio feminino da noite que originou na antiga Mesopotâmia. Era associada ao vento e, pensava-se, por isso, que ela era portadora de mal-estares, doenças e mesmo da morte. Porém algumas vezes ela se utilizaria da água como uma espécie de portal para o seu mundo. Também nas escrituras hebraicas (Talmud e Midrash) ela é referida como uma espécie de demônio.
Talvez dada a sua longa associação à noite, surge sem quaisquer precedentes a denominação screech owl, ou seja, como coruja, na famosa tradução inglesa da bíblia, na Bíblia KJV ou King James Version. Ali está escrito, em Isaías 34:14 que … the screech owl also shall rest there (a coruja também deve descansar lá). É preciso salientar, comparativamente, que na renomada versão em língua portuguesa da bíblia, isto é, na tradução de João Ferreira de Almeida, esta passagem relata que … os animais noturnos ali pousarão, não havendo menção da coruja, como é freqüentemente, muito embora erroneamente, citado no Brasil (tratando-se de um claro exemplo da forte influência da cultura anglo-saxã no mundo lusófono atual).
Na Suméria e na Babilônia ela ao mesmo tempo que era cultuada era identificada com os demônios e espíritos malignos. Seu símbolo era a lua, pois assim como a lua ela seria uma deusa de fases boas e ruins. Alguns estudiosos assimilam ela a várias deusas da fertilidade, assim como deusas cruéis devido ao sincretismo com outras culturas. A imagem mais conhecida que temos dela é a imagem que nos foi dada pela cultura hebraica, uma vez que esse povo foi aprisionado e reduzido à servidão na Babilônia, onde Lilith era cultuada, é bem provável que vissem Lilith como um símbolo de algo negativo. Vemos assim a transformação de Lilith no modelo hebraico de demônio. Assim surgiu as lendas vampíricas: Lilith tinha 100 filhos por dia, súcubus quando mulheres e íncubus quando homens, ou simplesmente lilims. Eles se alimentavam da energia desprendida no ato sexual e de sangue humano. Também podiam manipular os sonhos humanos, seriam os geradores das poluções noturnas. Mas uma vez possuído por uma súcubus, dificilmente um homem saía com vida.
Há certas particularidades interessantes nos ataques de Lilith, como o aperto esmagador sobre o peito, uma vingança por ter sido obrigada a ficar por baixo de Adão, e sua habilidade de cortar o pênis com a vagina segundo os relatos católicos medievais. Ao mesmo tempo que ela representa a liberdade sexual feminina, também representa a castração masculina.
Pensa-se que o Relevo Burney (ver alusões à coruja na reprodução do Relêvo de Burney, nesta página), um relevo sumério, represente Lilith; muitos acreditam também que há uma relação entre Lilith e Inanna, deusa suméria da guerra e do prazer sexual.
Algumas vezes Lilith é associada com a deusa grega Hécate, "A mulher escarlate", um demônio que guarda as portas do inferno montada em um enorme cão de três cabeças, Cérbero. Hécate, assim como Lilith, representa na cultura grega a vida noturna e a rebeldia da mulher sobre o homem.
Nos dois últimos séculos a imagem de Lilith começou a passar por uma notável transformação em certos círculos intelectuais seculares europeus, por exemplo, na literatura e nas artes, quando os românticos passaram a se ater mais a imagem sensual e sedutora de Lilith (ver a reprodução do quadro Lilith de John Collier, pintada em 1892), e aos seus atributos considerados impossíveis de serem obtidos, em um contraste radical à sua tradicional imagem demoníaca, noturna, devoradora de crianças, causadora pragas, depravação, homossexualidade e vampirismo (ver texto gnóstico na seção de links externos). Podendo ser citados também os nomes de Johann Wolfgang von Goethe, John Keats, Robert Browning, Dante Gabriel Rossetti, John Collier, etc…Lilith também é considerda um dos Arquidemônios símbolo da vaidade.

10 de março de 2011

Mortui Bizzarre: Ciclista


Acho que não é nescessario comentar... mais por está imagem vou ter que censurar o blog!

Nocte Melodia: The falling snow

Artista: Agalloch
Álbum: Ashes Against the Grain
Ano: 2006
Melodia: Agalloch
Letras: Agalloch


The falling snow

The water pours its embracing arms around the stone
Decay drips from the unquiet void where the ice forms, where life ends
The stone is by the crimson flood, swallowed
The red tide beyond the ebon wound, contorted
My sacrifice bids farewell in this river of memory... a wave to end all time
Red birds escape from my wounds and return as falling snow
To sweep the landscape; a wind haunted, wings without bodies
The snow, the bitter snowfall
You wish to die in her pale arms, crystalline, to become an ode to silence
In the soul of a mountain of birds, fallen
The cascading pallor of ghostless feather
The snow has fallen and raised this white mountain on which you will die and fade away in silence


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Libros Inferos: Abigor


Demônio que comanda sessenta legiões do inferno. Aparece como um vistoso cavaleiro montando um cavalo alado. Ele conhece o futuro e todos os segredos da arte de fazer guerra.

6 de março de 2011

A divina comédia -INFERNO- Dante Alighieri: Canto II

Depois da invocação às Musas, Dante, considerando a sua fraqueza, duvida de aventurar-se na viagem. Dizendo-lhe, porém, Virgílio, que era Beatriz quem o mandava, e que havia quem se interessava pela sua salvação, determina-se segui-lo e entra com o seu guia no difícil caminho.

FORA-se o dia; e o ar, se enevoando,
Aos animais, que vivem sobre a terra,
3 As fadigas tolhia; eu só, velando,

Me aparelhava a sustentar a guerra
Da jornada, assim como da piedade,
6 Que vai pintar memória, que não erra.

Ó Musas! Ó do gênio potestade!
Valei-me! Aqui, ó mente, que guardaste
9 Quanto vi, mostra a egrégia qualidade.

“Poeta”, — assim falei, — “que começaste
A guiar-me, vê bem se em mim persiste
12 Calor que, à empresa que me fias, baste.

“Que o pai do Sílvio fora, referiste,
Corrutível ainda, até o inferno
15 Sem perder o que em corpo humano existe.

“Se do mal assim quis o imigo eterno,
Origem vendo nele do alto efeito,
18 O que e o qual, segundo o que discerno,

“Pela razão bem pode ser aceito;
Que para Roma e o império se fundarem
21 Fora no céu por genitor eleito;

“À qual e ao qual cabia aparelharem,
Dizendo-se a verdade, o lugar santo
24 Aos que do maior Pedro o sólio herdaram.

“Nessa empresa, em que o hás louvado tanto,
Cousas ouviu, de que surgiu motivo
27 Ao seu triunfo e ao pontifício manto.

“Lá foi o Vaso Eleito ainda vivo:
Conforto ia buscar, à fé, que à estrada
30 Da salvação princípio é decisivo.

“Por que irei? Quem permite esta jornada?
Enéias, Paulo sou? Essa ventura
33 Nem eu, nem outrem crê ser-me adatada.

“Receio, pois seja ato de loucura,
Se eu me resigno a cometer a empresa.
36 Supre, és sábio, o que digo em frase escura”.

Como quem ora quer, ora despreza,
Sua alma a idéias novas tem disposta,
39 Mostrando aos seus desígnios estranheza,

Assim fiz eu na tenebrosa encosta,
Porque, pensando, abandonava o intento,
42 Formado à pressa, que ora me desgosta.

“Do teu dizer se atinjo o entendimento”
— Do magnânimo a sombra me tornava, —
45 “Eivado estás de ignóbil sentimento,

“Que do homem muita vez faz alma ignava,
Das honrosas ações o desviando,
48 Qual sombra, que o corcel ao medo trava.

“Desse temor livrar-te desejando,
Por que vim te direi e quanto ouvido
51 Hei logo ao ver-te mísero lutando.

“No Limbo era suspenso: eis requerido
Por Dama fui tão bela, tão donosa,
54 Que as ordens suas presto lhe hei pedido.

“Brilhavam mais que a estrela radiosa
Os seus olhos; suave assim dizia
57 De anjo com voz, falando-me piedosa:

— “De Mântua alma cortês, que inda hoje em dia
No mundo gozas fama tão sonora,
60 Que, enquanto existir mundo, mais se amplia,

“Amigo meu, que a sorte desadora,
Pela deserta falda indo, impedido
63 De medo, atrás os passos volta agora.

“Temo que esteja tanto já perdido,
Que tarde eu tenha vindo a socorrê-lo,
66 Pelo que lá no céu dele hei sabido.

“Parte, pois, e com teu discurso belo
E quanto o salvar possa do perigo
69 Lhe acode; e me console o teu desvelo.

“Sou Beatriz, que envia-te ao que digo,
De lugar venho a que voltar desejo:
72 Amor conduz-me e faz-me instar contigo.

“Voltando ao meu Senhor, em todo o ensejo
Repetirei louvor, que hás merecido”. —
75 “Tornei-lhe, quando já calar-se a vejo:

— “Senhora da virtude, a quem tem sido
Dado só que proceda a espécie humana
78 Quanto é no mundo sublunar contido,

“Tanto praz-me a ordem que de ti dimana,
Que, já cumprida, houvera inda demora:
81 Em me abrir teu querer não mais te afana.

“Diz-me, porém, por que razão, Senhora,
Baixar a este centro hás resolvido
84 Do céu, a que ardes por voltar agora”.

— “Se queres tanto ser esclarecido
Eu te direi” — tornou-me — “frase breve
87 Por que sem medo às trevas hei descido.

“Somente as cousas recear se deve
Que a outrem podem ser causa de dano
90 Não das mais: a temor a causa é leve.

“De Deus favor criou-me soberano
Tal, que a vossa miséria não me empece
93 Nem deste incêndio assalta o fogo insano.

“Nobre Dama há no céu, que compadece
O mal, a que te envio; e tanto implora,
96 Que lá decreto austero se enternece.

— “Volvendo-se a Luzia, assim a exora:
“O teu servo fiel tanto periga,
99 Que ao teu amparo o recomendo agora”. —

“Luzia, sempre do que é mau imiga
Ergue-se e ao lugar foi, em que eu sentada
102 Ao lado estava de Raquel antiga.

“De Deus vero louvor!” — diz-me apressada —
“Por que não socorrer quem te amou tanto,
105 Que só por ti deixou do vulgo a estrada?

“Não lhe ouves, Beatriz, o amargo pranto?
Não vês que junto ao rio é combatido,
108 Que ao mar não corre, por mortal espanto?” —

“Os danos, tão veloz, não tem fugido
Ninguém, nem procurado o que deseja,
111 Como eu, em tendo vozes tais ouvido;

“O trono meu deixei, por que te veja,
Fiada em teus discursos eloqüentes,
114 Honra tua e de quem te ouvindo esteja”. —

“Assim falava e os olhos fulgentes
Com lágrimas a mim ela volvia,
117 Para apressar-me a vir assaz potentes.

“A ti vim, pois, como ela requeria;
Da fera te livrei, que da colina
120 Tão perto já, teus passos impedia.

“Que fazes, pois? Por que, por que domina
Tanta fraqueza o peito espavorido?
123 Por que ao valor tua alma não se inclina,

“Quando és pelas três santas protegido,
Que na corte do céu por ti se esmeram,
126 E gozar tanto bem lhe é prometido?” —

Quais flores, que, fechadas, se abateram
Da noite ao frio, e, quando o sol aquece,
129 Erguem-se abertas na hástea, tais como eram,

Tal meu valor renova e fortalece.
Tanto ardimento o coração me aviva,
132 Que exclamei, como quem jamais temesse:

“Ó Dama em socorrer-me compassiva!
E tu, que a voz lhe ouvindo, obedeceste,
135 Cortês ao rogo e com vontade ativa,

“Por teu dizer no peito me acendeste
Desejo tal de vir, que sou tornado
138 Ao propósito, a que antes me trouxeste.

“Vai, pois nosso querer ’stá combinado.
Serás meu guia, meu senhor, meu mestre!”
Disse-lhe assim. Moveu-se ele; ao seu lado

142 Pelo caminho entrei alto e silvestre.



13. O pai de Sílvio, Enéias. — 28. O Vaso — São Paulo que nos Atos dos Apóstolos é chamado o Vaso de eleição. — 76. Senhora da virtude, Beatriz simboliza a teologia. — 94. Nobre Dama, Maria, mãe de Jesus, símbolo da misericórdia divina. 97. — Luzia, mártir e santa, símbolo da graça iluminante. — Raquel, filha de Labão e mulher do patriarca Jacó, simboliza a vida contemplativa.
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